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A bioeletricidade e os efeitos da aplicação da corrente alternada sobre o corpo humano

O organismo humano é constituído por células, tecidos e líquidos que contém dissolvidas substâncias químicas dos tipos orgânicas e inorgânicas, moléculas e partículas em suspensão e com carga elétrica. As substâncias orgânicas são as proteínas, gorduras, hormônios, carboidratos, vitaminas, entre outros. As substâncias inorgânicas são a água e os sais minerais.
Substâncias Químicas do Organismo Humano
Substâncias Orgânicas
Proteínas Gorduras Carboidratos Vitaminas Hormônios
Substâncias Inorgânicas
Água Sais Minerais

A água é a substância que se encontra em maior quantidade em nosso organismo, correspondendo a 65%, veja no diagrama abaixo:

 

Neste sistema aquoso encontram-se dispersos íons, que são átomos com carga elétrica presente devido à perda ou ganho de elétrons orbitantes, e que permitem a transmissão da corrente elétrica.

Cada tecido e cada célula possui líquidos em seu interior e exterior, com diferentes valores de concentrações, pressões osmótica e oncótica, potenciais de ação e níveis de polarização. Esses líquidos estão separados por membranas, as quais são permeáveis e possibilitam a passagem das substâncias.

Quando estes valores estão desiguais, comparando o meio intracelular com o extracelular, é necessário alcançar um equilíbrio, através de intercâmbio iônico. O intercâmbio iônico pode ocorrer devido a aplicação de uma força eletromagnética, na qual: elementos com cargas elétricas iguais são repelidos e elementos com cargas elétricas diferentes são atraídos.

As células comportam-se como condutores por constituírem um sistema aquoso e salino, possibilitando a realização de um trabalho elétrico. Esse trabalho consome cerca de 50 a 60% da energia celular, resultando em um gasto metabólico e energético.
A corrente é conduzida com alta velocidade pela célula pois a massa iônica é grande, e a velocidade de condução e a massa do condutor são diretamente proporcionais.

A membrana celular realiza um papel de seletor de íons, devido à sua propriedade de permeabilidade seletiva, o que provoca uma diferença de potencial entre dois pontos, por modificar as concentrações iônicas dos meios intra e extracelulares.
As bombas iônicas, também conhecidas por bombas de Sódio e Potássio, projetam para o meio exterior dois íons de Sódio para cada íon de Potássio que penetra na célula. Mesmo que neste trabalho não haja movimentação de íons com cargas diferentes, esse trânsito iônico gera uma força elétrica denominada por força eletromotriz (f.e.m.), que tem efeito na diferença de potencial celular (DDP).

As mudanças nas f.e.m e DDP, provocam alterações nas atividades celulares e conseqüentemente nos aspectos teciduais, possibilitando a transmissão da corrente elétrica.

ELETROTERAPIA
Segundo Kitchen e Bazin, a Eletroterapia é a utilização da energia eletromagnética com a finalidade de melhorar o metabolismo local tecidual e celular. Sua aplicação é realizada através de corrente elétrica, a qual provoca reações fisiológicas e biológicas sobre o organismo como um todo.

O organismo humano é composto por diferentes tipos de tecidos que variam seu grau de condutividade, sendo que os melhores condutores são os que possuem maior quantidade de água, pois, como já foi citado anteriormente, esta substância possui muitos íons dissolvidos em sua solução.

Quando é aplicada uma força elétrica de origem externa, geralmente maior que a força entre os íons, ocorre migração dos mesmos em direção à essa força externa, no sentido de atração ou repulsão: se o íon for da mesma polaridade que o eletrodo gerador, ocorre repulsão e se o íon for de polaridade oposta ocorre atração.


A migração iônica pode causar alterações fisiológicas em vários níveis do organismo: celular, tecidual, segmentar e sistêmico, segundo Alon, 1987. As alterações em cada nível são:

  • nível celular, pode atuar na excitação dos nervos periféricos; elevar o fluxo capilar modificado a microcirculação arterial, venosa e linfática; alterar a permeabilidade da membrana possibilitando o aumento da passagem de íons, e ainda pode proporcionar um aumento no número de mitocôndrias (organelas responsáveis pela respiração celular), melhorando a oxigenação das células.

  • nível tecidual, pode provocar um aumento do fluxo sangüíneo arterial e venoso e alterar os equilíbrios térmico (aumento da temperatura) e químico teciduais (composição química dos tecidos).

  • nível segmentar, é possível ativar a circulação linfática, venosa e arterial da grande circulação.

  • nível sistêmico, pode provocar efeitos analgésicos por interferir na ação de neurotransmissores, como por exempl o a Serotonina e ainda atua na circulação associada a polipeptídeos, principalmente nos vasoativos intestinais, ativando o peristaltismo.

    O efeito da Eletroterapia sobre os níveis citados, pode variar de acordo com o tipo e freqüência da corrente, a forma e o local de aplicação da mesma.

    Quando utilizamos uma corrente do tipo alternada, que promove contração muscular, podemos encontrar os seguintes efeitos, de acordo com os determinados valores de freqüência:

  • Locais de Ação Baixa Freqüência (1 a 15 Hz) Média e Alta Freqüência (15 a 50 Hz)
    Músculos Estriados Promove contrações rítmicas e vibratórias, movimentando o tecido, descongestionando o meio intersticial, liberando catabólitos reduzindo o quadro inflamatório e ativando o metabolismo celular. Promove contrações musculares isométricas intensas e profundas , com uma resposta mais efetiva da fibra, proporcionando hipertrofia, enrijecimento do grupo muscular estimulado, combatendo a flacidez muscular.
    Músculo Liso Promove contrações nos vasos condutores e esfíncteres, facilitando o transporte das substâncias Observa-se a contração profunda que favorece a movimentação dos ductos sangüíneos e linfáticos, intestino e esfíncteres, proporcionando aumento da drenagem e eliminação de toxinas.
    Circulações Sangüínea e Linfática Ocorre estimulação das circulações linfática e sangüínea, promovendo maior drenagem linfática. Provoca redução de edema devido à contração muscular acentuada e maior movimentação de líquidos e de liberação de toxinas.
    Pele Observa-se estimulação das terminações nervosas que provocam um efeito sensitivo característico, aumento do metabolismo local, ocasionando hiperemia e aumento da temperatura local. Ocorre hiperemia devido à vasodilatação local. A hiperemia será mais acentuada quanto maior for a sensibilidade da pessoa.
    Célula Ocorrem alterações no meio celular devido à mudança da permeabilidade da membrana, com ativação do fluxo iônico intracelular. Ocorre um aumento nas trocas iônicas devido à movimentação molecular e eletrolítica, pois o organismo se comporta como condutor deslocando íons.
    Tecido Adiposo Observa-se o desmantelamento da gordura devido à movimentação local e ativação metabólica. Ocorre redução do tecido adiposo subcutâneo no local de aplicação da corrente, pois há maior consumo energético devido ao trabalho celular.

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    1. KITCHEN, S. , BAZIN, S. , Eletroterapia de Clayton, São Paulo, Manole, 1998.
    2. MARTIN, J. M. R. , Electroterapia de Baja e Media Frecuencia, Madrid, Mandala Ediciones, 1994.
    3. ALON G. , “Fundamental Physiologic Responses” – In: NELSON, R. M. , CURRIER D. P. , Clinical Electrotherapy, cap. 3, pp. 54-59, CA, Appleton e Lange, 1987.