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A Esteticista e a L.E.R

Os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho tem sido de grande preocupação para a saúde pública nos países industrializados. Muitas empresas já estão tomando os devidos cuidados para que seus funcionários não sofram deste mal, fazendo com que a própria empresa não sofra as conseqüências. Mas como ficam as pessoas que trabalham fora da indústria, e que também podem sofrer com alguns desses males, sendo autônomos e profissionais liberais?Precisamos nos cuidar e prevenir algumas das causas que podem estar no nosso comportamento ao executamos a função, principalmente a esteticista que tem os membros superiores e as mãos como instrumentos de trabalho.

Definição Muitos autores preferem utilizar a terminologia DORT (distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho), que é o termo mais recente, porém existem vários outros nomes como LIC (lesões por traumas cumulativos), DCO (doença cervicobraquial ocupacional), SSO (síndrome de sobrecarga ocupacional) e LER (lesões por esforços repetitivos. A terminologia DORT foi adotada para a atualização das normas da doença, sendo que o uso do termo LER ainda se justifica, devido as referências bibliográficas ainda constarem essa terminologia.A LER não é um diagnóstico, mas sim um quadro sindrômico de sinais e sintomas, uma síndrome clínica classificada como: “um conjunto de afecções que podem acometer tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias e ligamentos, isoladas ou associadas, com ou sem degeneração dos tecidos, atingindo principalmente, porém não somente, membros superiores, região escapular e pescoço, sendo de origem ocupacional e decorrente, de forma combinada ou não de uso repetitivo de grupos musculares, uso forçado de grupos musculares e manutenção de postura inadequada”. (Sato et al, 1993) O médico deve determinar o diagnóstico específico.As formas mais comuns de apresentação da LER são: tenossinovites, epicondilites, bursites, tendinites, cistos sinoviais, dedo em gatilho, contratura de dupuytren, compressão de nervos periféricos, e outras.A LER tem relação direta com as exigências das tarefas, do ambiente físico e da organização do trabalho. São inflamações provocadas por atividades do trabalho que exigem do trabalhador movimentos manuais repetitivos, continuados ou vagarosos, durante um longo período de tempo. Elas podem trazer a perda da capacidade de realizar movimentos. Essa perda pode ser total ou parcial. As cirurgias e os tratamentos conservadores podem ajudar a reparar o dano, porém esses indivíduos podem nunca mais normalizar a sensibilidade, os movimentos e a força.

 

Maior Incidência em Mulheres !

A LER é uma doença progressiva quando o indivíduo não é afastado da atividade agressora e quando não toma os devidos cuidados no início das primeiras fases clínicas da patologia.O INSS em 1993, com o objetivo de fazer reconhecidas as fases clínicas para a boa orientação no tratamento, desenvolveu uma classificação para os estágios de evolução da LER, por graus, como regra de base.

GRAU I

  • Sensação de peso e desconforto no membro afetado. Dor espontânea, as vezes em pontadas, de caráter ocasional durante a jornada de trabalho sem interferir na produtividade. Melhora com o repouso. Em geral leve e fugaz. Os sinais clínicos estão ausentes e tem bom prognóstico.

GRAU II

  • Dor mais persistente, mais localizada, mais intensa e aparece durante a jornada de trabalho de modo intermitente. É tolerável e permite o desempenho da atividade profissional, mas com redução da produtividade nos períodos de exacerbação. Pode haver distúrbios de sensibilidade e irradiação definida. Pode não melhorar com o repouso e a recuperação é mais demorada. Os sinais clínicos ainda são ausentes e o prognóstico é favorável.

GRAU III

  • A dor é mais persistente, mais forte, tem irradiação mais definida. O repouso, em geral, não melhora totalmente a dor, somente atenua sua intensidade. Há sinais de distúrbios sensitivos mais graves. Há possível comprometimento da produtividade, quando não ocorre a impossibilidade de executar a função. Os sinais clínicos já estão presentes e freqüentemente o retorno para as atividades produtivas é comprometido, sendo o prognóstico reservado.

GRAU IV

  • A dor é forte e contínua, muitas vezes insuportável e exacerbada nos movimentos, podendo se estender por todo o membro. Há perda da força e do controle dos movimentos constantemente. Podem surgir deformidades e a capacidade ao trabalho é nula, sendo a invalidez caracterizada pela incapacidade de um trabalho produtivo. As AVD’s (atividades de vida diária) são prejudicadas, e normalmente ocorrem alterações psicológicas, sendo o prognóstico ruim.

Normalmente, a Ler surge quando há movimentos repetitivos exagerados e quando há esforço físico de estruturas do pescoço, braços e mãos, além do excessivo estresse mental e posturas corporais contraídas e inadequadas.

A manutenção de posturas anormais são as principais causas de LER por provocarem desequilíbrio muscular e compressão dos nervos. Essas posturas, muitas vezes, fazem com que certos grupos musculares sejam subutilizados e outros sofram sobreuso, levando a um ciclo vicioso do equilíbrio da musculatura e da postura. Além disso, certas posições também aumentam a pressão ao redor do nervo, ou o distende, podendo levar a uma condição crônica de compressão. (Higgs e Mackinnon, 1995)

Nem todas as pessoas que realizam tarefas repetitivas desenvolvem a LER, portanto, Luduvig em 1996 esclarece que somente o fato da repetitividade dos movimentos (sobrecarga sobre os tendões) não constitui causa única da doença. Vários estudos, até agora, mostram que cada pessoa possui uma história e responde de formas diferente aos estímulos do meio. Existem pessoas que realizam seu trabalho com satisfação, de forma prazerosa, enquanto outras descarregam toda sua tensão por insatisfação durante o trabalho, e o corpo tenso reage de forma ruim às pressões.No quadro abaixo segue algumas das muitas patologias e as causas ocupacionais dessas desordens:

Desorderns Músculo-Esqueléticas

Causas Ocupácionais

Tenossinovite de Quervain

Movimentos repetitivos; posturas viciosas do membro superior que levam ao desvio ulnar do carpo.

Dedo em gatilho

Movimentos repetitivos

Epicondilite

Movimentos repetitivos; postura viciosa do membro superior (esforço excessivo na extensão, flexão brusca ou freqüente do punho); compressão mecânica do cotovelo.

Síndrome do túnel do Carpo

Movimentos repetitivos; postura viciosa do membro superior (atividade exigindo constante flexão e extensão do punho); compressão mecânica da base das mãos, utilizando força na base da mão para realizar trabalho, vibração.

Síndrom da tensão do pescoço

Postura estática ou incorreta para realizar atividades.

Lech e Hoefel (1992)Prevenção

Hoje, encontramos no mundo da estética, profissionais trabalhando exacerbadamente, várias horas por dia realizando uma única função, como por exemplo, a drenagem linfática manual. Sabemos que a técnica de drenagem manual exige movimentos repetitivos das mãos, que associado ao estresse mental da permanência de uma única função, pode trazer resultados negativos para a saúde da própria profissional.

O trabalho da esteticista seria muito mais agradável se tivéssemos uma melhor estruturação ergonômica do nosso ambiente de trabalho. Ergonomia é a adaptação do trabalho ao homem. (Ilda, 1995) A ergonomia, como uma forma de prevenção, visa contribuir mais efetivamente na transformação do trabalho para melhor, participando ativamente na implantação de projetos ergonômicos que procuram modificar os ambientes de trabalho, proporcionando melhora nas condições físicas e psicológicas.

Precisamos tomar alguns cuidados em relação a isto durante nossos trabalhos. Além de nos corrigirmos em relação à postura, aos movimentos repetitivos, e outros, devemos complementar nossa atenção em relação às macas, que devem possuir uma altura ideal para a estatura do profissional. Os mochos devem ter regulagem de altura e um encosto adequado para uma boa postura. Além da adequação dos equipamentos e acessórios, é ideal a adaptação do local para um ambiente agradável, limpo, sem barulhos, o que vai trazer maior satisfação do profissional ao trabalho.

É importante salientar que as medidas preventivas, evitando danos futuros, são mais eficazes do que as corretivas, quando a lesão já está instalada.

O quadro abaixo dá algumas dicas que podem ajudar na prevenção dessas lesões:

 

Atitudes

Reações

Medida Preventiva

Frio

O frio provoca vasoconstrição dos vasos sanguíneos, o que pode levar a um déficit circulatório.

Evitar a realização de tratamentos em ambientes com temperaturas baixas.

Postura estática do corpo durante o trabalho.

Durante a contração estática do corpo, fica prejudicado o suprimento sanguíneo para o músculo, o que pode favorecer a produção de ácido láctico que vai estimular os receptores da dor, favorecendo seu aparecimento, mantendo a dor já existente ou agravando o quadro álgico.

Evitar postura estática do corpo, principalmente região cervical durante todo o trabalho.

Tensão no trabalho

O aumento do ritmo de trabalho diário pode gerar tensão muscular exacerbada, o que vai causar déficit no suprimento sanguíneo.

Procurar facilitar pausas de no mínimo de 15 minutos entre um atendimento e outro. Procure planejar os tratamentos, alternando entre trabalhos repetitivos e trabalhos não-repetitivos

Insatisfação no trabalho

A atitude de prazer e satisfação nas atividades favorece a produção de endorfina, que é um analgésico produzido pelo organismo. Trabalhar insatisfeito pode gerar tensões e maior tendência à dor.

Procure realizar tratamentos que você goste, que sinta prazer em executa-los.

Contrações isométricas prolongadas sem repouso

Esta postura pode provocar a oclusão dos capilares sanguíneos que rodeiam a região, levando à isquemia e retardo na liberação de metabólitos, o que caracteriza a fase inicial da lesão.

Procure não permanecer em contrações prolongadas da musculatura durante o trabalho, não depositando muita força muscular aos movimentos.

Assim como todos os trabalhadores, as esteticistas também deveriam realizar exercícios de preparação para o trabalho, como relaxamento e alongamento dos grupos musculares das mãos, braços e pescoço. Esses alongamentos deveriam ser realizados no mínimo duas vezes ao dia, o que ajudaria em muito no desenvolvimento do trabalho e na prevenção de lesões por esforços repetitivos e por tensão dos músculos.

Alongamento é qualquer manobra terapêutica elaborada para alongar (aumentar o comprimento) de estruturas de tecidos moles.

A medida que o músculo perde a flexibilidade normal (com o tempo encurta-se por adaptação à situação), ocorre também uma alteração na relação comprimento – tensão do músculo. A medida que se encurta não é mais capaz de produzir o pico de tensão e desenvolve-se uma fraqueza com retração. Vale lembrar que retração é o encurtamento leve de uma unidade musculotendínea que é saudável, e contratura é o encurtamento com perda da flexibilidade do movimento.

Os indivíduos que não praticam programas de flexibilidade podem desenvolver contraturas miostáticas (leves) ou retração. Essas situações podem ser resolvidas em períodos de tempo relativamente curtos com exercícios leves de alongamento.

Perla Garcia Martins
Fisioterapeuta – crefito 32159-F